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Thursday, December 30, 2010

Critica construtiva: Rio de Janeiro -> Cidade cinematográfica.

Recentemente o Rio de Janeiro voltou a ser destaque na mídia, nacional e internacional: Uma guerra declarada contra o tráfigo de drogas. Polícia, exercito, cidadões mobilizados pelo evento em algumas favelas da cidade. Favelas estas onde existia um governo paralelo, sem serviços, onde todos estavam sujeitos a vontade dos traficantes. Correios, polícia, luz, postos de saúde, serviços bancários tiveram sua entrada possível neste novo cenário de conquista da democracia e da paz. Casas de traficantes são espaços em transformação e ganharão utilidades como centros comunitários e escolas. Tornar-se-ão favelas "pacificadas", como algumas já são (a favela do pavão-pavãozinho é uma destas, e este ano de 2010 será palco mediático de turismo no reveillon, alem do "turismo pra gringo vê pobre e favela" que já existe lá).
Tudo isto é muito lindo, poético e positivo. Contudo isto leva-me a pensar em algumas conhecidencias e realidades que parecem escapar aos olhos.
Antes delas uma pergunta: A quanto tempo você não vem ao Rio de Janeiro? Faz muito tempo no meu caso, e na época meu "turismo" aqui foi simples: hotel simples, onibus para me deslocar, restaurante simples. Bom, neste panorama o Rio é, como direi... Sujo, assustador, difícil. Não é a realidade que foi apresentada aos meus olhos agora.

Rio para turista.

Chegar no aeroporto Santos Dumont foi uma experiência tranquila: Linda vista das praias e do Pão de Açucar já no avião ajudam neste processo. Imediatamente lembrei do que me aguardava lá embaixo. Pouso no horário, desembarque exemplar, sinalização boa. Começo a pensar que nem tudo estava perdido. Peço informação de como chegar ao Hotel escolhido (reservado por ser logo ao lado do aeroporto, já contando com o Rio que conhecia). Ele recomenda: é apenas alguns metros, pode ir caminhando tranquilo, é seguro. E foi. Cheguei ao hotel, consegui check-in antecipado, tudo perfeito. Deixo minhas tralhas no quarto e vou me encontrar com 1 casal de colegas de faculdade, tudo sem esquecer que estou no Rio (leia-se 80 reais no bolso, identidade, 1 celular barato e 1 cartão, e mais NADA). Já agora, não interessa se tuas roupas são 100% cariocas, todos vem que és turista, tudo denuncia (pele, olhar, medo, senso de direção). Taxi e mais uma vez bem atendido: me levou onde precisava ir sem maldade. Encontro o casal e vamos para um quiosque a beira da praia de Copacabana. Lá os moleques e malandros são esperados, mas pasmem: apenas alguns (chatíssimos) vendedores ambulantes e "músicos" locais (estes numa categoria superior de chatisse). Ainda: vejo com facilidade um policiamento ostencivo e bem organizado na praia. Sabe aquela sensação de segurança que achamos nunca ter no Rio? Pois eu tive. Pedimos lulas fritas e o Rio se apresentou pela 1ª vez: umas lulas de merda, filhote do filhote de filhote, cortadas em rodelas milimétricas e viradas em farinha e oleo velho. Até ai tudo ok, apenas um deslize neste novo Rio que estava conhecendo. Saimos dali e fomos ao Forte de Copacabana. Mais uma vez um Rio fantástico, e que agora se apresentava com um bom bar de beira de praia.
Terminada a tarde de muita conversa volto ao hotel pois o outro dia seria um dia D na minha vida.
Vamos a 2ª prenda do Rio: taxista mete uma "Bandeira 2" às 18h na cara dura. Liguei o foda-se e deixei. No hotel a malandragem carioca se apresenta novamente. Peço 1 peixe com batata assada e legumes do dia. Os legumeS era batata cozida, e ninguem para avisar.
Passa a noite e a manhã chega: Chuva e chuva. Se tu quer descobrir uma cidade sem nada pra fazer direito em dia de chuva conheça o Rio. Ok, tem museus, teatros, a biblioteca nacional... Mas chegar até eles é o caos. Chove, logo teremos mais carros na rua, logo alaga, logo não dá e ponto. Fui a minha reunião e mais um taxista malandro da bandeira 2. Comecei a notar: taxi com carioca bandeira 1, com "turista" bandeira 2 na falta de bandeira maior. E aposto que se fosse gringo era taximetro desligado ou com tabela de multiplicação por 2,3,4. Liguei aos meus amigos após minha reunião e a previsão era ficar em casa pois não tinha nada para fazer (shoppings estariam certamente lotados com turistas)e não tinham dica do que fazer. Assim adiantei meu voo e voltei ao hotel para pegar a mala. Adivinha o taxista. Reclamei e ele disse que era a dois, sem lá grandes motivos ou justificativas. Desisti de dialogar. Volto ao hotel, bem atendido pego minha mala e volto ao aeroporto para pegar alguma conexão com o outro aeroporto (só consegui volta por Galeão). Conexão neca, só um onibus +- por R$8,00. Está valendo, já que tinha tempo. Durante o trajeto até o aeroporto o Rio que conhecia se apresenta, e da mesma maneira de anos atras, sujo, feio, pobre e malandro. Prédios caindo, pichação, falta de polícia entre muitos outros que os sentidos acusam. No aeroporto volta ao mundo turismo, com seus custos: a comida cara e a garçonete apesar de bem atenciosa era obviamente malandra, com os 10% incluido na fatura ainda tentou ficar com o resto do troco, e só não fez porque não levantei da mesa.

Considerações sobre o Rio.

Sabe aquele Rio que assuta? Está todo aqui, varrido para debaixo do tapete. Levar vantagem é praxe, e você se torna "carióóóca" quando é capaz de se esquivar da malandragem E de aplicar ela. Com a copa do mundo e as olimpiadas chegando a galope o Rio comprou muitas vassoras e está varrendo tudo para debaixo do tapete, remediantando e tornando a cidade um lugar para literalmente turista ver. Ações como a "pacificação" da favela ganham contexto: Aparecer positivamente na midia e mudar o opinião mundial da cidade. Tão isto que os cabeças do tráfigo fugiram, mesmo com a favela cercada (o varridãaaooo). Talvez para assumirem seus apartamentos a beira mar e quem sabe colocarem seus negócios no século XXI. Americano vai poder passear na favela e fazer turismo na miséria construida por uma população inculta e imeditista (como um todo, e de todas as "classes").
O mundo vai dizer que o Rio está lindo e tudo acabará "bem", já que aquilo que não se vê, não existe. E aqueles cariocas que merecem um Rio reurbanizado vão ter que se contentar com esta falácia construida "pra gringo vê", e que minha experiência diz que vai dar certo (ou seja, falsa realidade vista como realidade). A teoria do pão e circo extrapola suas fronteiras e encontra na opinião pública do Rio e para o Rio sua base construida em papel mache e arame, ao estilo das melhores escolas de samba. Para que viver quando se pode sonhar?
Rio, te quero bem, mas deste jeito não quero te ver.